Jacques Tati é uma referência inequívoca da Sétima Arte. Qualquer um dos seus filmes é uma ode ao estilo de vida tradicional em confronto com a realidade cambiante da vida que se faz moderna. Mais a mais quando se fala de Playtime. Aqui, sem dúvida alguma, a vida nunca foi tão moderna.
Introduzidos numa Paris século XX, avant garde, avant la letre, avant qualquer coisa, vimos-nos confrontados com um cinza de arranha-céus, néons nocturnos e um inefável carrossel de carros alinhados em parquímetros feitos divisores limítrofes da existência Humana. Barbara é uma jovem Americana num grupo de turistas refugiadas no constrangimento daquilo que o turismo de massas lhes proporciona. São chapéus de flores frescas à saída, murchas à chegada. Oportunidades de fotos, recanto de uma velha Paris na memória de um reflexo vítreo quando uma porta se abre. M. Hulot é a representação do cicerone acidental, francês equivocado frente a tanto progresso de elevadores automáticos e escadas rolantes. Um enredo sem nexo mas cabível numa cidade que se faz da ilusão dos janelões feitos telões, vidas que se projectam e querem mostrar. O desfecho, antológico, no Restaurante Royal Garden é em si só um acto completo de fanfarra e alvoroço, grandioso demais para ser visto uma vez apenas.
Na verdade todo o filme é uma enorme intimidação à nossa visão da actualidade moderna. Daquilo que queremos ambicionar ser.
Em determinado momento da trama, presos no salão de demonstrações Strand, em que se visionam os produtos futuros, colunas Gregas são transformadas em caixotes de lixo, tudo em nome de um adorno clássico de conformismo e aceitação pelo belo em vez do real. Thro-out Greek Style. E está tudo dito.