#59 – Filipe Carvalho
Filipe Carvalho começou a sua carreira como “webdesigner”, mas a dado momento decidiu que era tempo de se reinventar e estudou “motion design”. A partir daí todo um mundo novo surgiu.
Sem medo de arriscar, foi criando o seu portfólio, mas mais importante ainda, enviou-o aos “grandes” do mercado americano! Arriscou e correu bem, porque como diz “o pior que pode acontecer é nada”! Português de dia, americano de noite, o trabalho de Filipe pode ser visto em séries da HBO, Fox, History Channel, ESPN, FX, Marvel. Pois é! Sabias que o Game of Thrones ou o Cosmos têm mão de Filipe Carvalho?
Diz-me quem é o Filipe visto de fora?
Designer de main titles para cinema e televisão. Português de dia, americano à noite.
Visto mais de perto, amigo do meu amigo. De pés bem assentes na terra ribatejana (onde nasci), mas com os olhos fixos no horizonte.
És alfacinha de berço, por devoção ou por convicção?
Lisboa é a minha cidade, é aqui que me sinto em casa, mas não pertenço aqui. Sempre andei de cidade em cidade com a família quando era criança, por isso sinto que posso morar em qualquer lugar. Mas quando o avião desce por cima do rio Tejo no regresso, na aproximação ao aeroporto, há sempre um sorriso que escapa.
Que projectos tens em mãos?
Sempre muitos, felizmente. Estou a desenvolver trabalho para séries como “The Walking Dead”, “American Gods” e a próxima mega-série da HBO “Westworld”, filmes como “Doctor Strange” da Marvel e “The Light Between Oceans” com Michael Fassbender. Para além disso, estou a começar a produção e realização de projectos directos para canais de tv americanos com uma equipa de origem portuguesa e estou a tentar trazer um festival de design para Portugal.
És o exemplo da pessoa que arrisca e petisca, qual é o segredo para arriscares sempre?
Tens sempre de tentar. O pior que pode acontecer é não acontecer nada. Podes racionalizar como quiseres, contabilizar os factores pró e contra, mas acima de tudo tens de ter vontade. Muita vontade. E aceitar que isso significa muito trabalho.
O que trarias do mundo do mercado de trabalho americano para Portugal?
Os orçamentos? Ah! Ah! Ah!
Os processos de trabalho, são muito diferentes do português. Atacam-se os problemas com rapidez e dedicação, antecipam-se os problemas, analisam-se as possibilidades. Ou seja, existe real dedicação e atribui-se mesmo tempo às tarefas e os resultados são sempre melhores assim.
Passarás um dia para o papel de realizador?
Já o vou fazendo e acho que é inevitavel. O que não quer dizer que vá fazer filmes para Hollywood!
Qual foi a pior ideia que tiveste até hoje?
Quando achei que devia aprender 3D e esse era o meu caminho de futuro. Detestei, não tenho jeito e rapidamente percebi que devia estar quietinho.
O que mudarias na tua vida hoje, olhando para trás?
Acho que poderia ter começado a filmar mais cedo – tanto como realizador ou director de fotografia.
Comecei como web designer há mais de 10 anos, depois motion designer e agora começo a realizar. Foi uma volta um pouco grande para descobrir o que realmente quero. Mas mais vale tarde que nunca!
Para ti Lisboa é…
…a cidade onde me descobri. Foi quando vim para Lisboa que comecei a saber quem era e o que queria fazer. Ainda o faço hoje em dia.
Se fosses Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, qual a tua primeira medida?
Tentava de alguma forma resolver o trânsito. Não é sustentável toda a gente ir de carro para o trabalho, na grande maioria uma pessoa por carro. Sei que não somos Amesterdão, mas haverá certamente algum compromisso.
Dedicava também bastantes recursos a resolver as habitações devolutas e degradadas da zona histórica de Lisboa. É altura de famílias e jovens voltarem a habitar o centro da cidade.
O que gostarias de ver em Lisboa na próxima semana, no próximo mês e no próximo ano?
No dia-a-dia, sinto que a cidade beneficiava de mais comércio local: coffee shops, gourmet bares, pop up stores. Muito na linha do que se vê em Barcelona ou Sydney. Trazer as pessoas à rua.
Acho também que falta um grande festival de arte e design, que apresente grandes nomes internacionais ao nosso mercado e aos nossos estudantes. No meu contacto com o processo criativo e métodos de trabalho americanos, descobri que temos muito a aprender e seria uma boa forma de os aproximar.
Lisboa tem prazo de validade?
As grandes cidades não têm prazo de validade, mas têm de se manter a par com as outras metrópoles internacionais. Costumamos ser mais lentos na adopção das novidades, mas nos últimos anos isso tem vindo a mudar.
Recentemente, o tradicional e até o retro estão em moda, mas isso não será sempre assim. As modas flutuam muito e temos de estar sempre atentos.
Qual é a primeira coisa em que pensas quando regressas a Lisboa?
Na Pizzaria Lisboa do Avillez, nos passeios na Baixa ou nas corridas ao fim do dia na Expo.
Desejo para 2016?
Que o meu projecto profissional ganhe novos contornos, que façamos mais e melhor. Que finalmente comece a ligar os projectos americanos ao potencial português.
Sugere-nos outras pessoas dignas da referência “100 Lisboetas que tens de conhecer!”.
O meu irmão, Luis Carvalho. Director da unidade de cloud e datacenter da Microsoft Portugal, é um dos principais lideres da área a nível europeu para uma das maiores empresas mundiais. É também alguém que sempre recusou ir trabalhar para fora do pais, escolhendo sempre Lisboa como a sua cidade (embora não seja alfacinha de origem).