Foto: Chtcheglov
A Ana Castanho é uma verdadeira inspiração, porque é aquela pessoa que luta, que torna os seus sonhos realidade, porque é alguém que arregaça as mangas e faz, com amor, com dedicação e com criatividade. Apaixonada pela escrita, passou pelos 4 cursos da Escola Superior de Comunicação Social. Assim foi de produtora da área cultural (teatro e música) até criativa publicitária.
O início da sua vida como Copywriter aconteceu na Sair da Casca e Winicio, depois passou pela Tux&Gill e Moon Lisboa e hoje está como Creative da equipa Grand Union – do grupo Fullsix Portugal. A Ana ainda dá aulas e pertence à Direcção do Clube de Criativos de Portugal. A sua outra paixão, a música, levou-a a escrever pontualmente para o P3/Público, a Metal Magazine/Barcelona, a Bloop Recordings ou o Lux Frágil. Mais recentemente tornou-se editora do jornal trimestral OITO!
Mas temos a certeza que tudo isto ainda não chega!
Como está a ser a aventura no Clube Criativos de Portugal?
É um desafio… lembrando que há mandatos e coisas que devemos cumprir, implementar, tentar mudar. Fazer. E encaro o CCP com várias motivações, 1º pelas pessoas que o encabeçam na Presidência e que eu admiro muito: o Pedro Pires e o Ivo Purvis. São excelentes profissionais e pessoas e conseguem passá-lo num meio que vive muito do ego e do qual eles muitas vezes abdicam para fazer qualquer coisa maior do que eles – do tamanho de uma comunidade inteira. O 2º ponto é quase um sentimento de dever: sou de uma geração dos estagiários low-cost, dos fura-vidas de peso médio, mas também dos cowboys do teclado e das redes sociais que tudo dizem, tudo disparam e tudo criticam. Somos assim. No entanto, muitas vezes eu e muitos da minha geração acabávamos por projectar sobre o Clube algumas frustrações da “classe”, da nossa recém-nascida experiência que só via o Clube em tempo de Prémios empunhados “sempre pelos mesmos” e tornava-mo-nos muito facilmente críticos de toda e qualquer acção muito antes de metermos mãos à obra, ou sequer nos tornarmos sócios participativos/colaborativos/construtivos para depois exigir. Então é isso: há que pôr lá a cara disponível ao estalo, as mãos e os conhecimentos de fora para tentar fazer qualquer coisa a olhar sem ser para dentro. Tem sido importantíssimo perceber todo o contexto em que o Clube opera como Associação, e à qual muitas entidades e pessoas recorrem em busca de apoio para desenvolvimento de algumas actividades culturais e educativas. Mas que tem imensas dificuldades que não são as do dia-a-dia do publicitário: burocracias, logísticas, orçamentos, necessidades de produção sistémicas,frentes operacionais a resolver, para depois conseguir um trabalho de relevância contínua para a comunidade.
Na semana Criativa qual o orador que não vais perder?
Temos grandes conferências no dia 8 de Maio, com referências internacionais como a produtora Passion Pictures que ganhou tanto um Oscar com um BAFTA pelo doc ‘Searching for Sugar Man’ ou que desenvolveu animações para os Gorillaz e pôs o dedo em maravilhas feitas para a Nike. Ao mesmo nível a Glassworks, também trazida pela mão do Rui Vieira, nosso curador de Filme. Orgulho-me muito da presença do meu ex-colega Filipe Carvalho, motion graphic designer com um pézinho em Hollywood e depois somamos à programção workshops, exposições, instalações… a nível de ilustração e arte, por exemplo, acho difícíl encontrar num só sítio uma comunhão de artistas e ateliers tão vasta e de qualidade tão grande como a que iremos ter disponível, dentro e fora do Convento da Trindade.
No programa vocês mencionam as várias áreas relevantes para se criar poesia nos nossos dias, como é que constróis a tua?
A temática Urgente é a Poesia surge do facto do nosso trabalho ser hoje bastante condicionado pela urgência ou a ideia dela. Para o cliente torna-se tudo urgente, muito antes do princípio pelo qual nos devíamos reger: o da inspiração. O “asap” dos emails às 18h30 tornou-se batuta para muita coisa num mercado que é alimentado de muitas artes, mas cada vez mais atropelado na qualidade, por essa pressa que não entrega realização nem fortalece o meio. Não é fácil fazer a correlação inspiração/tempo ou deadline/qualidade. Mas há que tentar fortalecer as relações com os clientes e mostrar-lhes a diferença que faz o ser bom antes de ser rapidinho. A eficácia que daí advém. Depois, connosco próprios: limpando as vistas com dedicação a projectos pessoais, dando atenção ao talentos dos outros, escrevendo sem objectivo ou fazendo bolos e perceber que as coisas levam tempo a crescer!
Lisboa tem liberdade para ser criativa ou cortam-lhe as asas?
Acho que o que safa Lisboa é ter gente criativa e a sê-lo muitas vezes sem dinheiro, estruturas ou apoios. Gente a fazer teatro, cinema, exposições e música sem bases senão as suas próprias. Lisboa tem cultura que é dela, feita a esgravatar. E ainda bem que há quem! Vês a criatividade a nutrir o engenho, como na Casa Independente, nos contentores do Village Undergound, nas novidades constantes da rua do Poço dos Negros, nos ateliers, produtoras e nas actividades que nascem das mãos de boa gente que arranca e inspira quem vem a seguir.
Muitos dos nossos criativos passam algum tempo da sua vida profissional lá fora, também está nos teus planos? Achas que depois regressarás?
Por agora fico e há muito para fazer. Enquanto cá estiver, é apostar no que me apaixona, sejam coisas dentro ou fora da agência – que ainda acredito que o meio é um pouco glutão, como se não crescessemos todos mais se colaborássemos mais. Amigos como o Vasco Vicente ou o José Filipe Gomes já eram bons cá dentro, muito bons. Só por isso não lamento que tenham ido para agora serem merecidamente reconhecidos aqui. Quando se é bom, é-se bom em qualquer parte, ainda que aqui doa mais um pouco. Mas bora: “No pain, no gain!”.
Quem te segue no Instagram, no Facebook ou Tumblr percebe a quantidade de Vida que há em ti, principalmente musical. Quem destacarias como alguém essencial a ouvir?
Vou tentar resumir a coisa assim: dou graças à programação musical do Lux Frágil, à mestria do Pedro Fradique que me mantém o tracto da música electrónica apurado. E esta, a sua, é uma programação musical que me ensina muito, muito. Depois diria que a minha rotina passa por ter à escuta as sugestões e essencial mixes do Gilles Petterson, as transmissões do Jon Hopkins na BBC Radion 1, Maryanne Hobbs na BBC Radio 6, o que o Tim Sweeney quiser e tudo o que o Flying Lotus soltar, os podcasts no mixcloud do CCP curados pela Sonja e Beastie Boys nos phones, sempre que sair do trabalho. Sempre.
Sabemos que as pessoas mais próximas chama-te Anita, conta-nos como seria um “Anita em Lisboa”, por onde passaria ela?
Não há de ser uma história muito interessante, posso dizer que passo muito mais tempo em casa do que possas pensar… a trabalhar. Mas se não lesses a Anita em Casa, gostava que lesses as edições Anita no Tati, na Bica ou no Park. Ou Anita no Minipreço e Pingo Doce, que eu como muito. Ou Anita no Brownie – que me fica bem com o Castanho.