Autor da capa desta semana, vive em Varsóvia e dedica-se à arquitectura, à ilustração e à banda desenhada.
Entrevista de Blindim
És formado em arquitectura e ilustração. Qual é a área a que te dedicas mais?
O desenhar foi uma paixão que surgiu naturalmente desde muito novo, quando não há inibições de ordem social para o fazer. Sempre me interessei por banda desenhada e creio que começou por aí.
Formei-me em Arquitectura para dar uma expressão mais material aos vários interesses que entretanto desenvolvi, mas o gosto pela ilustração manteve-se. Sempre foram duas áreas que procurei levar em paralelo pelas diferentes expressões que permitem e pelos elementos criativos que partilham. Actualmente desenvolvo trabalho de freelancer como arquitecto de interiores e ilustrador
através dos projectos DanielGarciaArt e Triline Studio, depois de passar por Barcelona, Madrid e Varsóvia, onde resido.
Se pudesses, em que é que concentravas toda a tua atenção?
É difícil dizer. Se por um lado sinto que posso ser mais expressivo e participativo através da ilustração e da banda desenhada, onde procuro quase sempre veicular temas de interesse social ou humano, por outro lado a arquitectura tem um enorme potencial na relação que os lugares podem estabelecer connosco, mas a verdade é que hoje em dia se encontra muito distanciada de nós, também pelas várias limitações que os criativos da área estão sujeitos.
E claro, o factor financeiro é sempre importante, pelo que procuro levar as duas coisas em paralelo.
Como é que foi a experiência de estudar em Madrid, onde tiraste o curso de ilustração?
Depois de estagiar como arquitecto durante algum tempo mudei-me para Madrid para tirar o curso de ilustrador profissional na ESDIP (Escola Superior de Dibujo Profesional). É uma escola bastante boa de renome internacional e têm uma grande oferta de cursos. Foi uma grande mudança para mim estudar num ambiente de pessoas apaixonadas e interessadas pelo desenho. A criatividade e energia também se contagiam.
O teu trabalho engloba também a banda desenhada. É um mundo que te fascina?
A banda desenhada é uma arte que me apaixona bastante. Condensa expressões de várias áreas. Tal como a pintura, tem cor e enquadramento, tal como a literatura, tem carácter e desenvolvimento, tal como o cinema ou a poesia, tem ritmo. Pode-se dizer que só lhe falta falar!
Dela derivam uma imensidade de géneros e expressões, dependendo dos artistas, e é importante desmistificar a banda desenhada como algo para jovens ou crianças, há de tudo para todos, do mau ao bom.
É importante para mim, naquilo que escrevo e desenho, que as pessoas possam sentir-se ou pensar.
O que é gostas mais de fazer, ilustração digital ou desenho?
Sou da geração criada antes dos computadores, a ilustração tradicional e desenho à mão são a minha âncora. Mas há que evoluir com os tempos e a pintura digital é cada vez mais a norma pelo que agora trabalho nos dois médiuns, dependendo do que quero expressar.
No entanto, como em muitas outras coisas na sociedade, há que reconhecer que se perde uma certa sensibilidade em detrimento da economia de meios e rapidez.
Lisboa inspira-te?
Sou alfacinha de gema e regresso sempre que posso a Lisboa. É e sempre será para mim uma das cidades que reúnem lugares e momentos especiais. Podem ser umas escadinhas, um beco transviado, um pôr do sol rente ao rio, mas também a sua face mais escura, como as áreas mais desfavorecidas no centro e nas periferias. No seu conjunto e comparada com outras grandes cidades, Lisboa mantém ainda muito da sua “inocência”, o que na minha opinião a torna especial.
Costumas sentar-te num banco de jardim ou encostar-te a uma parede e desenhar assim, por impulso?
Isso acontece-me muitas vezes! Embora às vezes o chão costume ser a opção mais prática. Quase sempre ocorrem situações engraçadas como a típica pessoa que para para fazer o seu comentário ou até darem-me uma moeda como já me aconteceu.