Paulo Gomes

Ligado à moda desde sempre, produziu imagens inesquecíveis para edições como o Independente, a K, a Marie Claire ou a Elle. Recentemente, este mundo da moda levou-o mais longe, com um projecto inovador que caminha para o futuro. Conheçam o Manifesto Moda.

O que é o Manifesto Moda?
O Manifesto Moda é um projecto sediado em Portugal que reune sinergias colaborativas internacionais – entre a investigação de novas tecnologias aplicadas aos têxteis, os designers e os artistas e as empresas têxteis e de confecção. No centro do projecto estão os denominados tecidos inteligentes, aos quais introduzimos o design, resultando numa marca que traduz essas novas bio-funcionalidades aplicadas ao vestuário do dia a dia. A MAnifesto Moda pretende nesse caso servir como um cluster entre a investigação e o design, para responder às novas necessidades do consumidor, que hoje em dia volta a querer vestuário que traduza novas formas de estar na vida. Daí nos focarmos em funcionalidades nas peças “segunda pele”, que podem simultaneamente proteger o consumidor de doenças transmitidas pelos mosquitos ou bactérias (anti-mosquito, anto-bacteriano, etc), que lhes podem conferir maior conforto (peças com fibras termo-reguladoras, por exemplo), ou que simplesmente possam incutir um espirito mais lúdico (tintas reagentes aos raios UV ou à àgua).

Como é que, no teu percurso de produtor de moda, se deu a viragem para este Manifesto?
Eu trabalho na área de moda há mais de 25 anos, mas sempre estive ligado a projectos ligados à imagem e sobretudo aos denominados produtos de luxo e de design de autor. Fiz o programa de moda 86-60-86, colaborei sistematicamente com revistas de moda (Marie Claire, Elle, Máxima, etc), fiz muitos desfiles de criadores, nomeadamente na ModaLisboa, onde fui director artistico durante 19 anos. Chegou um momento, há 3 anos, onde senti que esse já não era o caminho. A minha percepção das novas necessidades do consumidor levou-me a que procurasse novos caminhos face aos modelos tradicionais. E, por vários acasos, deparei-me com este novo campo de estudos – tecnologias têxteis com aplicações bio-funcionais – que considerei, de imediato, ser o futuro do vestuário. E, passo a passo, fui comprovando que, de facto, é esse o caminho. Pelo menos a meu ver.

Sendo um projecto de intervenção, o nome Manifesto Moda está também relacionado com um compromisso social?
Sim, temos uma forte preocupação com a sustentabilidade, com a vertente mais eco-friendly, e sobretudo com alguma vinculação a causas mais humanitárias. Parte das vendas revertem a apoios a grupos de risco e mais desprotegidos, como já é o caso do apoio com t-shirts anti-mosquito a uma escola numa das aldeias Masai no Kenya, numa ONG no Haiti ou em breve numa escola em São Tomé e Principe.

O futuro da moda passa pela tecnologia?
O futuro da moda, tal como eu a entendo, passa definitivamente pela ligação à tecnologia, à investigação de novas soluções para os têxteis.

Por onde tem andado este Manifesto?
O Manifesto Moda tem andado um pouco por todo o lado. Estamos presentes nas feiras mais técnicas dos têxteis, como a TechTextile (Munique), em feiras de pronto-a-vestir, seja para vestuário mais desportivo (ISPO em Frankfurt) como mais comercial (Colômbia, Las Vegas, Porto, Tóquio), e também muito em constante procura de novos parceiros locais para desenvolvimento deste tipo de funcionalidades nas roupas das comunidades locais, em África, América Latina, Ásia e Médio Oriente. Não temos parado (risos)

Continuas a fazer o teu trabalho de styling para revistas de moda. Como é que vês a evolução nessa área em termos de resultados na fotografia? O que mudou nos últimos anos?
Últimamente tenho vindo a pôr cada vez mais de lado a colaboração como stylist e art director nessa área, até porque começa a faltar-me o tempo. Mas o “bichinho” continua sempre cá e não consigo deixar de fazer uns editoriais de vez em quando. Neste momento só estou a fazer para a revista de bordo da TAP, a UP, que dá bastante gozo, já que a temática não são as tendências de moda, mas sim os destinos territoriais para os quais a companhia aérea viaja. Vejo a evolução da fotografia de moda sempre com bons olhos. Os novos formatos e plataformas digitais contribuem muito para essa nova liberdade. Apesar de ao mesmo tempo contribuir para um menor ênfase no rigor e na técnica. Mas são novos tempos, e há sempre que tirar o melhor partido do que se tem.